A Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil– REDETRANS teve sua fundação e registro no ano de 2009 na cidade do Rio de Janeiro, instituição nacional que representa as Travestis e Transexuais do Brasil.
A Rede Trans Brasil deixa público por meio desta o seu repúdio à reportagem exibida ontem (03/02) no programa “Fantástico” da Rede Globo, em que mostrava o falecimento de Lourival Bezerra de Sá, um homem trans, já senhor na terceira idade, mas que foi noticiado pela emissora como a “Mulher se passou por homem por 50 anos e segredo só foi descoberto após morte”.
Expressamos nossa profunda preocupação, visto que a própria emissora já demonstrou em outros momentos reportagens que informavam sobre a temática Trans e de forma responsável, o que causa uma incoerência com essa exibida no último domingo, já que, demonstrou total descompromisso mais uma vez com essa população e sua identidade de gênero, que nesse caso, notamos explicitamente ser um homem trans, ao qual para vivenciar sua transmasculinidade fez uso de faixas para comprimir as mamas, utilizou um nome social, pois certamente seu nome do registro civil não correspondia a maneira que ele se reconhecia socialmente. Um fato muito comum entre os homens trans, mas que foram utilizados como puro sensacionalismo, ignorando completamente a vivência de Lourival.
A forma com que a mídia se reportou ao senhor de 78 anos é desumana. Bem como, as próprias autoridades que estão tentando apagar a identidade de Lourival nesse processo, visto que, após quatro meses ainda não liberaram o corpo dele para o enterro. Esse comportamento só sinaliza a continuidade da exclusão da população de homens trans na sociedade, exclusão esta que temos denunciado e combatido de forma contínua, mas que apesar do movimento organizado ter se fortalecido, a sociedade insiste em não reconhecer nossos corpos, e querem a todo custo manter invisibilizadas as nossas vivências, reforçando dessa forma, a Transfobia que sofremos ao nos apagar enquanto homens devido ao conhecimento do nosso genital biológico.
O eufemismo usado para invisibilizar o relacionamento da vítima com sua parceira também é outro ponto que chama atenção na reportagem, pois acaba apagando o fato de nós, homens trans, também sermos pais de família e seres humanos que constroem relacionamentos afetivos, mesmo não sendo homens cisgêneros.
Lourival é mais uma prova de que nós, Homens Trans, sempre existimos, porém, fomos invisibilizados por anos. Concluímos então, que nem toda informação disponibilizada na atualidade é capaz de estimular a dignidade do corpo trans, o objetivo é se ter uma matéria completamente transfóbica. Percebemos, que nem em nosso momento de morte nos é dado a dignidade e reconhecimento de nossas histórias, pois para a sociedade ainda somos só nossas genitais. São por conta de reportagens como essa que invisibilizam nossa população, que se naturaliza a violência que sofremos, que não é somente a física. É por conta dessa irresponsabilidade com nossa população de homens trans que passamos diariamente por esse apagamento social dos nossos corpos e muitos acabam tirando a própria vida, o que explica o alto índice de suicídio entre nós dentro do segmento Trans. Pois o suicídio de Homens Trans, está nas mãos sangrentas dessa sociedade cisnormativa que adoecem nossos corpos transgêneros.
No contexto dos princípios e direito de imagem, honra, intimidade e privacidade do morto e as consequências da sua violação, são importantes e oportunos pelos reflexos que trazem na estrutura psíquica do homem, ofendendo diretamente a sua dignidade e, especialmente no caso do falecido, alcança diversos aspectos da vida. Afetando diretamente seus entes queridos, sejam eles amigos ou familiares, pois vilipendia a história de vida construída que, muitas vezes, serve de referência para as próximas gerações de seu grupo familiar ou mesmo da sociedade em que viveu. Neste caso, para toda a população de Homens Trans, que por meio de movimentos sociais lutam para que suas identidades de gênero, prenome, pronomes sejam respeitados e que com isso possam ter equidade perante uma sociedade transfóbica que mata tanto de forma direta, quanto de forma indireta.
Portanto, enquanto Núcleo de Homens Trans da Rede Trans Brasil solicitamos uma nota de retratação da Rede Globo. Se posicionando de forma responsável e respeitosa com a identidade de gênero de Homens Trans em seu jornalismo. Já que, em outras programações e dramaturgias possuíram empatia, cuidado e expertise para tratar do tema. Queremos o respeito dessa emissora, não apenas quando convém ganhar nossa audiência em suas novelas, mas também quando noticiar tudo que diz respeito a nossa população trans.
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Nota de Repúdio à Rede Globo em Virtude da Matéria Exibida no Fantástico.