Aracaju, 26 de Outubro de 2018.
A Rede Trans Brasil fundada desde de 2009, coloca-se como instrumento de expressão da luta pela garantia dos direitos humanos e cidadania plena de Travestis e Transexuais masculinos e femininos contra quaisquer formas de discriminação, além de priorizar o fortalecimento de politicas publicas governamentais nas três esferas e a garantia de uma legislação a nível das três esferas que ampare nossa comunidade.
João W. Nery era psicólogo, escritor e ativista, nasceu no Rio de Janeiro em 12 de fevereiro de 1950, e é reconhecido por todo o País como o primeiro Homem Trans do Brasil, aos 37 anos assumiu a paternidade da gravidez de sua mulher, sendo seu único filho. Fez a sua transição durante a ditadura militar, incluindo as cirurgias da mamoplastia masculinizadora e a histerectomia (cirurgias que só foram legalizadas 20 anos depois), após suas cirurgias fez uma nova documentação para poder ser reconhecido socialmente e perdeu assim todos os seus direitos anteriores, inclusive o seu diploma, tornando-se um analfabeto. Passou então a trabalhar como pedreiro, pintor, vendedor, dentre outros.
João escreveu dois livros autobiográficos: Erro de pessoa – Joana ou João (publicado em 1984, pela Editora Record) e Viagem solitária – memórias de um transexual 30 anos depois (publicado em 2011, pela Editora Leya) e estava concluindo o seu terceiro livro intitulado por Velhice Transviada, segundo o seu segundo livro (Viagem solitária) reconhecido nacionalmente, contribuiu para a reflexão sobre a diversidade sexual e de gênero e seus direitos. A vida de João W. Nery relatada através do seu livro, foi uma das fontes da inspiração de Glória Perez para a novela “A Força do Querer”.
O compartilhamento da sua história em seus livros possibilitou à muitos Homens Trans se identificarem com ele. Foi muito procurado por familiares, amigos e dos próprios Homens Trans, pedindo ajuda para se “assumirem” perante a sociedade. Foi procurado por profissionais de saúde, psicólogos, faculdades, sempre pedindo seu depoimento e seu conhecimento.
João como ativista se posicionava como libertário, não se filiando à nenhum partido político, lutava pelos Direitos Humanos, não se restringia apenas ao LGBT. Rompeu vários tabus, até mesmo dentro da comunidade trans, defendia que Homens Trans não precisavam se hormonizar, operar, fazer cirurgias, ser magro, ter barba, ou seja, não precisava se enquadrar em nenhum dos estereótipos impostos pela sociedade, apenas precisava se reconhecer e se declarar como tal.
Recebeu o nome do Projeto de Lei (5002/2013) dos Deputados Federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Érika Kokay (PT-DF), baseado na legislação argentina, a proposta determina que o reconhecimento da identidade de gênero é um direito do cidadão e facilita os trâmites para a mudança do nome e gênero. Defendia também que elaborassem um projeto para garantir a inseminação artificial em Homens Trans que queiram e ainda possuam o sistema reprodutor, defendia também a despatologização das identidades Trans, era a favor de uma legislação específica que criminalize a discriminação com a população Trans, e era a favor do uso do nome social em todos os espaços.
João lutou bravamente contra um câncer, que começou nos pulmões e teve metástase até o cérebro, e faleceu nesta sexta-feira, 26 de outubro de 2018 aos 68 anos. Antes de falecer fez um post em seu facebook e pedia que a luta LGBT continuasse.
“Continuem a nossa luta por nossos direitos, se unam, não oprimam os nosso irmãos oprimidos, já por tanta transfobia e sofrimento. Um transmasculino não precisa ser sarado, nem ter barba, nem se hormonizar ou ter penis e se operar. Basta saber quem são e que se sentem do gênero masculino. Vamos nos respeitar, nos unir, nos fortalecer e, sobretudo, ensinar aos homens cis o que é ser um homem sem medo do feminino”, declarou ele.
Nossa gratidão e homenagem à João W. Nery pelas vidas que transformou, por tudo o que fez e representa dentro do movimento LGBT, em especial ao movimento de Homens Trans enquanto esteve entre nós e a nossa solidariedade à família e amigos.
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Atenciosamente,
Cauã Cintra Ferreira Araújo.
Coordenador do Núcleo de Homens Trans – Rede Trans Brasil. Em nome da Direção, Instituições e Pessoas Físicas Filiadas.