Elas foram dois dos principais pilares para as revoltas iniciarem no bar Stonewall, Nova York, em 1969, conseguiram avanços na comunidade LGBT e foram essenciais na noite da revolução. Motivo pelo qual a data 28 de junho é a que se celebra o Dia do orgulho LGBTI em todo o mundo. Em 19 de fevereiro de 2002, Sylvia faleceu em decorrência de um câncer no fígado e Marsha teve seu corpo descoberto flutuando no rio Hudson logo após a parada do orgulho de 1992, sua morte não foi investigada pela polícia, no entanto, suas histórias e colaborações para o nosso movimento devem permanecer vivas entre nós.
Sylvia reconheceu ter sido uma das primeiras ativistas a lançar um molotov à polícia quando eles entraram para reprimir e prender vários jovens que estavam dentro do bar. Ela e sua amiga Marsha P. Johnson, também ativista trans, eram as faces visíveis do cansaço em relação a uma sociedade repressiva e uma força policial muito pior.
Filha de dois imigrantes de Porto Rico e Venezuela, Sylvia teve uma infância cheia de violência e traumas. Ficou órfã aos três anos de idade e foi morar com a avó, que durante toda a infância desprezou e negou sua identidade, obrigando-a a sair de casa aos dez anos. Durante toda a sua vida ela sofreu abusos da polícia, que a aprisionou apenas por ser quem ela era e por como decidiu viver a vida.
Marsha era filha de um trabalhador da linha de montagem da General Motors e sua mãe era uma empregada doméstica. Ela começou a usar vestidos com a idade de cinco anos, mas parou temporariamente devido ao assédio de meninos que viviam perto de sua casa. Em uma entrevista de 1992, descreveu ser a jovem vítima de agressão sexual por um adolescente. Em Elizabeth em 1963, a ativista saiu de casa para a cidade de Nova York com 15 dólares e uma sacola de roupas. Depois de se mudar para Greenwich Village em 1966, conheceu pessoas gays na cidade, Johnson finalmente sentiu que era possível ser ela mesma e ser capaz de sair. Junto a Sylvia, fundaram a STAR, um refugio para LGBT em situação de rua.
Até que um dia elas e outros disseram que já era suficiente.
Em 28 de junho de 1969, no bar gay Stonewall, em Nova York, um ataque policial ocorreu como costumava acontecer em todos os bares que pessoas LGBT frequentavam naquela época. Cansados de viver essa situação de repressão constante, e de forma libertária, eles decidiram ir para o front e lutar contra a polícia.
Tudo começou com o lançamento de vários Molotovs improvisados com bebidas que eles tinham em mãos. Sylvia foi umas das primeiras a contra-atacar e enfrentar as forças repressivas. Durante várias entrevistas, ela apontou que, quando tudo começou, elas não queriam perder um minuto do que estava acontecendo, pois perceberam que estavam fazendo a revolução. As revoltas duraram três dias e foram o gatilho para estabelecer as bases do orgulho LGBTQ+.
Depois dos tumultos em Stonewall, a revolução ainda estava acontecendo, especialmente para mulheres trans que ainda não eram respeitadas dentro de sua própria comunidade. Em 1973, durante uma marcha, Sylvia e Marsha subiram ao palco e desafiou todas as pessoas que estavam lá, especialmente os gays brancos que pareciam ter esquecido quem havia iniciado o fogo para a libertação.
Enquanto todos a vaiavam, Silvia deu seu discurso mítico “Todos deveriam ficar em silêncio”, onde ela questionou onde estava o calor de seus colegas quando se trata de reivindicar os direitos do T de LGBT. Depois desse dia, ela tentou cometer suicídio e afastou por duas décadas da militância, mas continuou ajudando jovens gays a terem uma casa e a impedir a prostituição como sua única saída.
A luta de Sylvia e Marsha, como a de muitas outras mulheres trans está mais ativa do que nunca, pois elas continuam sendo ignoradas por parte do feminismo e da comunidade LGBT. Além disso, seus direitos ainda são violados, uma vez que sua expectativa de vida ainda é muito inferior à das pessoas cisgêneras, e o sistema as leva a uma vida de pobreza, dependência de drogas e prostituição. Sua vida foi dedicada a demonstrar que a igualdade de gênero tinha que ser um fato e que os direitos não são emprestados, eles são tomados.